Espetáculo virtual multimídia e debate é apresentado para jovens da Spectaculu
Qual é o futuro do teatro pós-pandemia? Esta foi uma das muitas perguntas levantadas pelo evento virtual ‘Cineteatro Especial: Lá Fora, Temporal’, realizado com exclusividade para jovens da Spectaculu nesta sexta (23/04), através da plataforma Google Meet. A iniciativa exibiu o espetáculo multimídia, seguido de um debate com o ator Ary Coslov, o autor Marcelo Aquino, a diretora Cassia Vilasboas e o cenógrafo e figurinista Guilherme Reis.
‘Lá Fora, Temporal’ é uma peça inédita que estreou on-line em novembro de 2020 no Teatro Petra Gold. O espetáculo é estrelado pelos atores Ary Coslov e Analu Prestes, com direção de Cássia Vilasboas, texto de Marcelo Aquino e fotografia de Fabrício Tadeu. Na sinopse, o protagonista Oscar (Ary Coslov) está isolado do mundo e vive entre o delírio, o sonho, a realidade e os jogos da memória. Uma inusitada visita quebra essa rotina, armando uma teia de relações, atravessamentos e afetos. O projeto funde as linguagens de teatro e cinema através da transmissão via streaming e do uso de técnicas não-convencionais. Durante a temporada do ano passado, o público assistia à peça pelo aplicativo Zoom e podia escolher entre as quatro câmeras que registraram todo o espetáculo.
Teatro e internet: novos formatos
Em exibição especial para a Spectaculu, os alunos 2021 assistiram a uma versão compactada de ‘Lá Fora, Temporal’, que exibiu todas as câmeras em uma única tela, gerando uma experiência audiovisual e teatral extraordinária. “A pandemia trouxe esse desafio da gente pensar em como vamos fazer arte com esses novos recursos. Em um ano, o sistema mudou. A gente vai ter que se adaptar, transformar, entender e, de alguma forma, se apaixonar por tudo isso”, explicou a diretora Cássia Vilasboas. Ela reiterou a evolução permanente da produção artística: “Tem coisas que a gente faz pra sobreviver, outras a gente faz pra evoluir a nossa própria arte. Esse trabalho foi assim. Fazer funcionar foi um desafio enorme. Os problemas técnicos foram muitos. O que a gente queria preservar ali é que o teatro é a arte do presente”.
Para o veterano Ary Coslov, que acumula quase seis décadas de carreira como ator e diretor no teatro, na televisão e no cinema, desbravar novos formatos para se adequar ao projeto foi bastante instigante:
– Durante quatro meses, houve um processo de descobrir uma linguagem. Isso afeta o ator. Você não está atuando para o público, mas para a câmera. A gente ainda está vivendo esse processo de busca, de como fazer isso. Mas tudo funcionou muito bem. Acho que esse formato veio para ficar. Mesmo com o final da pandemia, quando a gente voltar a fazer teatro, vai continuar mantendo essa linguagem e usar a internet para apresentar produtos de dramaturgia.
A peça impactou os jovens da Spectaculu, e a equipe de “Lá Fora, Temporal” respondeu a diversas perguntas sobre os bastidores. Entre as curiosidades, os alunos puderam descobrir que o texto original previa apresentações de quase duas horas e acabou reduzido para uma duração de 40 minutos, a fim de se adequar às audiências das novas mídias. Tradicionalmente desenhada no teatro pela figura do iluminador, a iluminação também foi assumida, como acontece nos produtos audiovisuais, pelo diretor de fotografia Fabrício Tadeu, que trabalhou em grandes obras do cinema nacional como ‘O Som ao Redor’, de Kleber Mendonça Filho.
Os profissionais envolvidos em ‘Lá Fora, Temporal’ também ofereceram dicas para os jovens da escola. Responsável pelo figurino e pelo cenário do espetáculo, Guilherme Reis explicou as particularidades e diferenças das duas áreas no teatro e no audiovisual e falou sobre uma questão que faz muita diferença para futuros profissionais: “É fundamental saber produzir, saber quanto custa cada objeto, viabilizar, conhecer questões de logística. É muito importante pegar essa bagagem de produção, não só os devaneios da criação”. Para a diretora Cássia Vilasboas, a dica mais importante para os técnicos em formação da Spectaculu é a atenção ao relacionamento interpessoal no trabalho:
– Para quem está entrando no mercado, a forma como tratamos o outro é fundamental, é o principal. A gente tem a oportunidade de ser a mudança que a gente quer no mundo, não jogar no trabalho as frustrações. Antigamente, havia um outro jeito de fazer arte, muita vaidade. A gente precisa desconstruir esse lugar.